quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

UM SONHO NÃO REALIZADO...

Há quem diz que uma cidade ou uma comunidade sem cultura é como uma Comitiva Boiadeira, pastoreando e levando seus bois pelas estradas da vida, e que não encontrando postos de parada para seu descanso, para seus devaneios, asseios e trocas de roupa, não se recicla e nem se renova, e chega ao final da viagem perdendo seu maior patrimônio, os bois. Assim é a cultura de um povo. Ela necessita de postos de parada. Postos de divulgação e aglutinação da cultura e do conhecimento humano.
A cultura, em todas ou em qualquer de suas formas, desperta nos jovens o interesse por novos conhecimentos, propiciando seu crescimento interior com mudanças em seu comportamento, tornando-se assim um cidadão participativo e atuante. E deste modo, com o tempo, provocando no povo ou em sua comunidade um crescimento coletivo na direção das preocupações com a melhoria de vida, no seu aspecto mais amplo. Torna-se um cidadão incluso na sociedade e um participante ativo nos problemas e anseios de sua comunidade. Sente-se valorizado, com auto-estima e empático aos problemas e aflições alheias. E desta maneira, tornando-se mais participativo e preocupado com as mazelas e misérias do homem. Transforma-se num cidadão no seu sentido pleno.
O homem vive de sonhos, sonhos possíveis e impossíveis. A sua luta para a conquista destes sonhos não deve nunca esmorecer. Às vezes muito mais vale a luta em si do que a conquista. Mas mesmo assim, todos devemos nos preocupar em se possibilitar meios, caminhos, diretivas e aparatos para a conquista do conhecimento. E entre eles, um que considero dos mais importantes é a valorização da cultura em seu aspecto mais abrangente. Incluindo aqui as artes, todas as artes.
Os povos antigos já preconizavam o incentivo às sete Artes Liberais, sendo na Idade Média decompostas em Trívio (Gramática, Retórica e Dialética) e Quatrívio (Aritmética, Geometria, Música e Astronomia). Estas eram as sete Artes Liberais da Idade Média. Em nossa era moderna as Sete Artes são a Música, a Dança, a Pintura, a Escultura, a Literatura, o Teatro e o Cinema. Quem nunca ouviu falar da sétima arte, o cinema.
A primazia da Música, colocada em primeiro lugar, é a conseqüência natural, nos primórdios da humanidade, que em função dos sons ambientes e da fala, terem despertado nos homens a manifestação natural da reprodução e repetição dos ruídos e sons da natureza. Como decorrência natural, a Dança surge como uma manifestação corporal da representação lúdica da música. A Pintura surge em função da perpetuação de imagens iconográficas, de figuras e objetos do cotidiano. Sua conseqüente transposição de uma visão holística e interior do homem, leva-o a representar em três dimensões as imagens planas, surgindo então a Escultura como tridimensionalização da Pintura. A Literatura surge como resultado do aparecimento da escrita, perpetuando-se na Literatura a fixação para a posteridade daquilo que era contado e instruído de boca a ouvido e que agora com a escrita, possibilitou-se a perpetuação dos contos, mensagens e registros das atividades cotidianas, surgindo como conseqüência a arte da Literatura, uma das mais belas manifestações culturais. Em seguida o Teatro surge como uma representação lúdica e visual de tudo o estava transposto na Literatura. E finalmente, o Cinema, a sétima arte, surge como decorrência de uma técnica mais avançada para a perpetuação e fixação da arte cênica teatral para a grande tela.
Em decorrência, todas estas sete manifestações das artes possibilitaram e possibilita o despertar para o conhecimento humano. Com o conhecimento, a sabedoria interior; com a sabedoria, a humanização e a conscientização; e com isto tudo junto, a formação do caráter e das virtudes humanas, que resultam em crescimento espiritual, elevando o ser humano a níveis superiores de respeito e amor, com tudo e com todos.
E por que estou a todos contando estes fatos e justificativas? A resposta é simples. Um sonho não realizado. O sonho de ver surgir de um patrimônio histórico e cultural, o nosso já saudoso Cine Guarani, como um Centro Cultural de aprendizado, de divulgação e exteriorização destas sete Artes da Era Moderna. A Música, a Dança, a Pintura, a Escultura, a Literatura, o Teatro e o Cinema. Um lindo sonho perdido pela valorização da matéria sobrepujando o espírito, do ter em desfavor do ser.
Já perdemos o valente guerreiro Guarani e um pouco antes o Coreto da Praça Ataliba Leonel, que de cima de seu palco se apresentavam Bandas em concertos musicais, além de outras atividades culturais. Mais recentemente fomos notificados da perda da Rádio Cultura de nossa cidade, alvo de uma crônica escrita e divulgada neste semanário. Este jornal tradicional, conhecido por todos e por muitos reverenciado e citado sempre, como dos mais antigos e importantes de nossa região, pelo que parabenizamos o querido amigo e irmão Erivelto, por sua força e determinação em manter em atividade este valoroso e digno representante da imprensa, o nosso querido “O Oeste Paulista”.
Que este libelo possibilite a todos os anastacianos o despertar para a importância e a necessidade de atividades culturais em nossa comunidade.
Que a educação e a cultura sejam um grito de guerra na luta para a Liberdade, Igualdade e Fraternidade entre todos os homens livres e de bons costumes.

José Carlos Ramires
Um pequeno sonhador...
01/02/2008

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