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terça-feira, 12 de abril de 2016

A PEDRA MÍSTICA

A MÍSTICA DA PEDRA
De João Anatalino – no livro “Conhecendo a Arte Real”
Editora  Madras – Ed. 2007, pg. 41

            Aquilo que acontece no coração dos maçons que descobriram o verdadeiro significado da Arte Real é comparável ao que acontece no espírito dos alquimistas e dos modernos cientistas. Há uma transformação qualitativa de caráter e um desvelar de visões que lhe permitem “ver” e sentir melhor o mundo em que vivem. É possível perceber o conjunto no qual se circunscrevem e qual é sua posição relativa em face a ele. Melhor ainda, é possível perceber qual a sua exata configuração nesse todo e sua função em um domínio que, ele agora sabe, também se compõe em razão das suas atitudes.
            Quando ele tem essa visão de conjunto e essa sensação de pertencimento, então descobre o verdadeiro significado da palavra Fraternidade. E aí ele saberá por que está ali e por que um dia ele quis ser um maçom. Mas esse é um processo que se cumpre no coração e não na razão.
                O triunfo da máquina sobre a mão do homem, na confecção de obras materiais, eliminou da cultura humana a tradição de sacralizar os ofícios. Perdido o elo que ligava a mente à matéria, o homem não soube mais como lhe tirar obra de criação. Se antes, pelo labor das mãos, ele podia se sentir um deus, no sentido de que também criava, agora suas criações eram apenas mentais e a execução se processada por meios mecânicos, sem aquela interação mente-matéria que possibilitava ao antigo artesão a realização espiritual pelo trabalho. Assim, a sacralização do ofício, de operativa, passou a ser meramente especulativa.
                Milênios passam, as civilizações desapareceram; o tempo tudo devora, as próprias obras confeccionadas pelo homem são consumidas; mas das construções humanas, as que mais resistem são as habitações que ele faz para seus deuses e para seus próprios restos mortais. De todas as grandes civilizações do passado, o que resta são as ruínas de seus templos e de seus cemitérios. E são nessas edificações, erigidas para atender ao desejo de viver eternamente na memória dos homens, que transparece o sentido metafísico da Arte Real, já que nelas o que se imprime é uma imagem vinculada à ideia de imortalidade, só atribuída aos deuses e ao espírito do homem.
                Com efeito, pouco resta dos grandes palácios erguidos para usufruto dos potentados humanos, e das casas onde residiram os seus construtores. Mas as ruínas dos grandes templos da antiguidade e as majestosas tumbas erigidas para o sepultamento dos seus restos mortais ainda testemunham a magnitude da inteligência dos maçons daqueles tempos.
                As primeiras formas de construção produzidas pelos grupos humanos foram as palafitas, casas de madeira erguidas nas margens dos rios. Em seguida, foram empregadas as pedras, primeiro em sua forma bruta, depois as trabalhadas. A edificação com pedras brutas marcou o início da estabilidade do homem sobre a terra, pois representou o despertar do seu sentimento gregário, sentimento esse marcado pela sua fixação em certo meio ambiente. Já a construção com pedras trabalhadas lhe deu uma identificação no meio daquele ambiente, pois a partir daquele momento o mundo ficara impregnado de algo que ele criara pelo lavor das próprias mãos.
                A pedra sempre foi para o homem um objeto de estranhas propriedades. Nele ele podia sentir um grande poder de resistência, durabilidade e maleabilidade, pois ela, além de poder assumir todas as formas fabricadas pela natureza, também parecia ser perene e resistir a todas as intempéries. Trabalhá-la, dando-lhe formas úteis e agradáveis à vista, tornou-se um ritual à mente no qual se associava à matéria para criar o Universo real. Nas pedras se cultuavam os deuses, nelas eram escritos seus mandamentos; nelas também se eternizava a memória dos entes queridos e a beleza das formas do gênero humano; com elas também se faziam as muralhas que serviam de defesa para as cidades e algumas espécies de pedras faziam a riqueza de muitos homens.
                O culto à pedra sempre esteve presente nas tradições dos povos desde o início dos tempos. Nada estranho, portanto, que ela tenha sido escolhida para simbolizar a metafísica fundamental da prática maçônica. O Aprendiz, por trabalho de conscientização interior, transforma-se em uma pedra lavrada. Desbastado de suas asperezas, aparecerá como uma obra de lavor que estará em condições de integrar-se ao edifício universal que é a Maçonaria, aquela Maçonaria que, segundo Ramsay, “é uma grande República, da qual cada Nação é uma família e cada indivíduo, um filho”.
                Da mesma forma que o Aprendiz, é essa pedra bruta que precisa ser lavrada para adquirir a personalidade desejada, o Companheiro é a pedra cúbica. Ele representa o material que foi trabalhado e transformado pela iniciação dos Mistérios Maçônicos. Simboliza, na evolução da sociedade humana, uma segunda fase de transição, quando ela passa da mera aglomeração de indivíduos por razões de sobrevivência, para uma organização social que já pode ostentar as primeiras conquistas de um processo civilizatório. Esse processo está registrado na história humana mediante a construção de edifícios com materiais já mais elaborados, como a pedra lavrada e os tijolos queimados.[1]
                A pedra, sendo um produto em que a natureza concentra um grande potencial de forças telúricas, é o que mais se presta ao trabalho de arte sacra. Por isso é que a ela se associa, feralmente, a um ritual, uma prática de sentido esotérico. Assim faziam, por exemplo, os antigos cortadores de pedra medievais, que, no decurso de seus trabalhos diários, recitavam preces e executavam batidas rituais com seus instrumentos de trabalho, para atrair os bons influxos para o indivíduo e para a comunidade. Para muitos místicos, a pedra é um ser vivo cheio de energia, a energia que eles chamam lápidus. Essa energia estaria na origem da vida, já que, segundo eles, a vida orgânica teria se originado a partir das transformações sofridas pela matéria bruta. Daí o imenso simbolismo contido nas diversas espécies de pedras. O mármore, como representativo da morte, o granito como símbolo da força, nas pedras dos rios a ideia de evolução, no quartzo e nos cristais a inspiração artística e o êxtase divino, etc.
                Não é sem razão também que os alquimistas simbolizavam em uma pedra a essência da sua “Obra”. A pedra filosofal era um preparado químico que conteria a alma da natureza, capaz de transmutar metais simples em outro. De alguma forma, também a mística oriental se vale do simbolismo da pedra para representar a busca da quietude, do equilíbrio e da serenidade, que está na postura do iogue[2] “petrificado”.
                Um dos mais marcantes exemplos de trabalho na pedra nos foi dado por Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, o maior escultor brasileiro do período colonial. Suas estátuas, suas figuras de pedra sabão, que enfeitam as igrejas mineiras, mostram bem a excelência do maçom operativo que atingiu a plenitude espiritual através da técnica operativa. No trabalho daquele genial artista é possível “ler” a mensagem maçônica expressa nos gestos, nas feições, na forma e nas medidas que a sua obra foi composta.
                Jean Palou, citando P. Sébillot (Légendes et Curiosités dês Métiers – Lendas e Curiosidades dos Mestres) diz que “é interessante observar que ‘machados de pedra polida’ (são) colocados debaixo das fundações em várias regiões da França” (...) mormente quando se sabe que na maçonaria a pedra cúbica em ponta, que representa o companheiro, é muitas vezes feita na forma de um machado, sendo este instrumento próprio da Maçonaria Florestal, simbolizando o fogo purificador e sendo um dos atributos de São João, sob cujo patrocínio são colocadas as Lojas maçônicas.
                Esse é um bom exemplo da mística da pedra e suas implicações no simbolismo da Maçonaria. Tudo começa na pedra, como na natureza. A partir daí, há um longo trabalho iniciático que envolve a iniciação, preparação, aperfeiçoamento e acabamento. É preciso não perder de vista esse processo, se quisermos, realmente, entender a Arte Real.

Preparado por
José Carlos Ramires
12 de abril de 2016



[1] Se, por um lado, nas construções feitas pelos antigos povos do Egito e da Palestina eram utilizadas principalmente pedras, nas construções feitas pelos povos que habitavam os vales do Tigre e do Eufrates, região conhecida como Mesopotâmia, o material utilizado foi o tijolo cozido. Veja, por exemplo, a descrição feita na Bíblia sobre a construção da Torre de Babel. No Egito, utilizava-se, e muito, o tijolo feito de barro misturado com palha de trigo; porém, na maioria das grandes construções, o material era a pedra, uma vez que esse material era, e ainda é, muito abundante na região.
[2] Termo que significa o praticante de ioga; ioguim

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

A IMPORTÂNCIA DO PENSAR E CONHECER-SE NA MAÇONARIA

Prefácio
Apresentamos aqui um texto que ilustra muito bem o ato de pensar, a sua importância para o homem e muito mais ainda, ao homem maçom... Um conceito interessante para a expressão: "Conheça-se a ti mesmo..."
José Carlos Ramires
20 de agosto de 2015
Dia do Maçom

A IMPORTÂNCIA DO PENSAR E DO CONHECER-SE NA MAÇONARIA...

Actualizado em Sexta, 27 Junho 2008 11:45

O Ser humano distingue-se dos demais animais pela capacidade de processamento de
informações através do ato de pensar.

Pensar é formar idéias na mente, é imaginar, considerar ou descobrir. O filósofo René
Descartes disse: “com a palavra pensar entendo tudo o que sucede em nós, de tal modo que o
percebemos imediatamente por nós mesmos: portanto, não só entender, querer, imaginar, e
sim também sentir é o mesmo que pensar”. Pensar estabelece relações, as conceitua e
encontra um significado para elas. Formar relações entre vários conceitos é julgar. Estabelecer
o significado de vários conceitos é raciocinar. Assim o ato de pensar implica três funções
básicas: conceituar, julgar e raciocinar.

O pensador mexicano Antônio Caso dizia: "liberdade é pensamento. Pensamento é liberdade.
Na essência do pensar está a autonomia." Partindo dessa última definição de que na essência do pensar está a autonomia, na Maçonaria o ato de pensar está diretamente ligado ao postulado da Liberdade. Liberdade para desenvolver seus conceitos a partir dos ensinamentos recebidos, porque somos livres e autônomos para falar e assumir posições, sem afastar-nos da filosofia maçônica e de seus princípios.

Filosoficamente, a Maçonaria mostra ao homem-maçom que ele tem um compromisso consigo
mesmo, com o seu pensar, o que fazer de sua própria existência. Pois, quando o homem
prescinde de si mesmo, de seus deveres, quando o homem abre mão da sua liberdade, da
quantificação do seu Eu, quando o homem esquece de si próprio, está a negar-se como Ser.
Como a intenção desta prancha não é a de aprofundar a busca filosófica da arte real, vamos
ao objetivo do pensar e o conhecer-se na Maçonaria, especialmente ao Primeiro Grau.

O Primeiro Grau se estereotipa no “conhece-te a ti mesmo”, divisa escolhida por Sócrates. O
grande pensador ensina ao maçom-aprendiz que a primeira coisa a fazer é aprender a pensar.
Aprendendo a pensar aprende-se a conhecer, a discernir, a falar. Aprendendo a pensar
encontraremos, sem dúvida, meios e modos que facilitam a busca, a procura, a investigação, o
ponto de chegada.

Assim, nesse vai-e-vem do pensar, nesse vai-e-vem da busca, o Aprendiz, introspectivamente,
passará a conhecer-se melhor. Conhecer é descobrir o Ser. Assim para o aprendiz, o descobrimento do Ser é o auto-conhecimento e deve levá-lo à introspeção, à análise da sua forma de vida antes da iniciação, estabelecendo a partir de então os limites entre o profano e o iniciado, corrigindo as eventuais falhas de construção de seu edifício, passando a pensar e agir dentro dos limites
estabelecidos, que pode significar simbolicamente o nascimento do novo Ser.

O Maçom estará pronto para a busca dos conhecimentos da Ordem a partir do auto-conhecimento e da “morte” dos resquícios contrários à filosofia maçônica inerentes ao profano.
“Conhece-te a ti mesmo” nos leva à conclusão de que se não praticarmos o conhecimento de
nós mesmos, se não nos propusermos a esmiuçar o nosso espírito com o objetivo de
melhorá-lo, com a intenção de aperfeiçoar nosso intelecto, não projetaremos em nós uma
melhoria moral, não conseguiremos desbastar a Pedra Bruta. 

O Primeiro Grau é onde utilizamos com maior propriedade os sentidos da visão e da audição. Com eles desenvolvemos o Pensar, estabelecemos relações e comparações que formarão os alicerces do desenvolvimento e nos ajudarão nos passos seguintes da caminhada. Lembrando que todos iniciamos na Ordem pela coluna do Sul, no primeiro grau, e cada um tem seu momento de despertar, porque não existe prazo determinado para o seguimento da jornada. O que deve acontecer é a maturação do iniciado, uma etapa de cada vez, um degrau após o outro, e mesmo assim sem jamais deixar de ser Aprendiz, sem jamais deixar de utilizar os sentidos da visão e da audição com sabedoria. Cada degrau da escada de Jacob inexiste sozinho, ele sempre será o resultado do somatório do conhecimento adquirido nos degraus anteriores.

Pratique o Pensar para conhecer-se, para então buscar o diferencial, a formatação do novo Eu
através do conhecimento, para a transformação, para o renascimento, para a prática da
verdadeira maçonaria.

A intenção desta prancha é a de incentivar os irmãos para o Pensar, o conhecer-se, que é na
minha opinião a primeira grande instrução do grau, para então desbravar, investigar a
verdade através da leitura, da interpretação dos símbolos e alegorias, e da troca de
experiências com os outros irmãos.

Gilson Alves, M.’. M.’.
Instrução apresentada em Sessão Grau 1 – 25 de maio de 2006. A .’. R.’. L.’. S.’. Plácido de
Castro  nº 251 - GORGS - filiada à COMAB, Santa Cruz do Sul, RS, Brasil.

Bibliografia:
Matthew Lipman – O Pensar na Educação;
Raimundo Rodrigues de Albuquerque – Texto
Raimundo Acreano Rodrigues – Texto
Considerações pessoais.