terça-feira, 22 de novembro de 2011

O FIM DO FUTURO...

O FIM DO FUTURO...

Uma crônica interessante, intrigante e preocupante...

José Carlos Ramires

Peter Thiel

National Review

Um.

A civilização ocidental moderna se sustenta sobre os pedestais gêmeos da ciência e da tecnologia. Juntos, esses dois campos nos asseguram que a história de progresso ininterrupto do século 19 segue intacta. Sem eles, os argumentos de que vivemos uma decadência cultural – desde o colapso da arte e da literatura após 1945 ao totalitarismo do politicamente correto e aos mundos sórdidos dos reality shows – ganhariam muito mais força.

Os liberais afirmam que a ciência e tecnologia continuam saudáveis. Os conservadores às vezes dizem que elas são falsas utopias; mas os dois lados concordam que o firme desenvolvimento e aplicação das ciências naturais devem continuar.

No entanto, durante a Grande Recessão, que começou em 2008 e ainda não terminou, essas grandes expectativas foram suplementadas por uma necessidade desesperada. Precisamos de empregos bem pagos para nem pensar em competir com China e Índia por empregos mal remunerados. Precisamos de crescimento para preencher as expectativas ilusórias de nossas aposentadorias e dos nossos fugidios Estados de bem-estar Social. Precisamos de Ciência e Tecnologia para nos tirar do profundo buraco econômico e financeiro, embora a maioria de nós não possa separar ciência de superstição ou tecnologia de mágica.

Sabemos que o otimismo desesperado não vai nos salvar. O progresso não é automático nem mecânico, é raro. Aliás, a história única do ocidente é a exceção da regra de que a maioria dos seres humanos existiu num estado brutal, imutável e empobrecido por milênios. Mas não há uma lei garantindo que a ascensão do Ocidente vá continuar.

Portanto, faríamos bem em analisar a opinião amplamente aceita de que os Estados Unidos estão no caminho errado (e já há algum tempo). Seria bom também perguntar se o progresso não está se saindo tão bem como alardeiam e, talvez, tomar medidas excepcionais para conter e reverter um possível declínio.

O estado atual da verdadeira ciência é a chave para saber se há realmente algo de podre nos EUA. Mas qualquer avaliação tropeça em um desafio quase intransponível. Quem poderá avaliar a saúde do universo do conhecimento humano, uma vez que muitos campos científicos ficaram complexos, esotéricos e especializados demais?

Quando qualquer campo exige metade de uma vida de estudos para que seja dominado, quem poderá comparar adequadamente a taxa de progresso em nanotecnologia, criptografia, teoria das supercordas e 610 outras disciplinas? Aliás, como saber se os chamados cientistas não são legisladores e políticos disfarçados, como alguns conservadores suspeitam em campos tão díspares, como mudanças climáticas e biologia evolutiva, como eu vim a suspeitar em quase todos os campos?

Por enquanto, vamos reconhecer esse problema de medição, mas não permitir que ele paralise a investigação sobre a modernidade antes de ela começar.

Dois.

Confrontado às grandiosas esperanças dos anos 1950 e 1960, o progresso tecnológico ficou devendo. O exemplo mais literal da não aceleração é: não estamos nos locomovendo mais depressa. O aumento da velocidade de locomoção ao longo dos séculos – veleiros cada vez mais rápidos nos séculos 16 e 18, trens cada vez mais velozes no século 19 a carros e aviões no século 20 - foi revertido pela desativação do Concorde em 2003, sem falar dos atrasos em aeroportos.

Os atuais defensores de jatos espaciais, férias lunares e exploração tripulada do Sistema Solar parecem vir de outro planeta. Uma desbotada capa de Popular Science de 1964 – “Quem o levará para voar a 3.200 km/h?” – recorda vagamente os sonhos de uma era passada. A explicação oficial para a desaceleração nas viagens gira em torno do alto custo do combustível, o que aponta para o fracasso ainda maior na inovação energética.

Os preços reais do petróleo excedem hoje os da catástrofe de Jimmy Carter de 1979-80. O apelo de 1974 de Nixon para uma plena independência energética até 1980 deu lugar ao apelo de 2011 de Obama por um terço de independência de petróleo até 2020.

A indústria nuclear e sua promessa de 1954 de “energia elétrica barata demais para se medir” foi derrotada há muito tempo pelo ambientalismo e a preocupação com a proliferação nuclear.

Não se pode, em boa consciência, encorajar um estudante universitário em 2011 a estudar energia nuclear como carreira. A “tecnologia limpa” virou um eufemismo para “energia cara demais” e, no Vale do Silício, virou também um termo cada vez tóxico para maneiras quase garantidas de perder dinheiro.

Sem inovações drásticas, a alternativa ao petróleo mais caro poderá acabar sendo não as energias mais limpas e muito mais caras, extraídas de vento e sol, mas a do menos caro e mais sujo carvão. Para fins atuais, basta notar que 40% da carga ferroviária envolve o transporte de carvão.

No caso da agricultura, a fome tecnológica pode levar a uma fome real ao velho estilo. O esmorecimento da verdadeira Revolução Verde – que aumentou em 126% a produção de grãos de 1950 a 1980, mas progrediu apenas 47% depois disso, mal conseguindo acompanhar o ritmo do crescimento da população global – encorajou outra “revolução verde”, esta mais intensamente divulgada e de um caráter mais político e mais incerto.

Podemos embelezar a Primavera Árabe de 2011 como alvissareiro subproduto da Era da Informação, mas não deveríamos desconsiderar o papel principal da disparada dos preços dos alimentos e das muitas pessoas desesperadas que ficaram mais famintas que temerosas.

Apesar de a inovação em Medicina e Biotecnologia não ter estagnado completamente, também há muita redução das expectativas. Em 1970, o Congresso americano prometeu a vitória sobre o câncer em seis anos. Quatro décadas depois, podemos estar 41 anos mais perto, mas a vitória parece muito mais distante.

Os políticos de hoje achariam muito mais difícil persuadir um público mais cético a começar uma guerra comparável contra o Mal de Alzheimer – apesar de quase um terço dos americanos com 85 anos ou mais, sofrerem de alguma forma de demência. A medida mais crua, que é a expectativa de vida americana, continua aumentando, mas com certa desacelaração – de 67,1 anos para homens em 1970 para 71,8 em 1990 e 75,6 em 2010.

Olhando para o futuro, vemos muito menos drogas revolucionárias sendo desenvolvidas – talvez por causa da intransigência da FDA (agência federal americana que controla alimentos e remédios), talvez pela inépcia dos pesquisadores de hoje e pela incrível complexidade da biologia humana.

Nos próximos três anos, as grandes companhias farmacêuticas perderão cerca de um terço de seu fluxo de receita corrente com a expiração de patentes, de modo que, numa resposta perversa, mas compreensível, elas começaram a liquidação dos departamentos de pesquisa que deram tão poucos frutos na última década e meia.

Três.

Por exclusão, os computadores viraram a única grande esperança para o futuro tecnológico. A aceleração na Informática contrasta dramaticamente com a desaceleração em todo o resto.

A Lei de Moore, que prevê a duplicação do número de transistores que pode ser empacotado em um chip a cada 18-24 meses, permaneceu verdadeira por mais tempo do que todos (inclusive Moore) teriam imaginado em 1965. Um celular em 2011 tem mais poder de computação do que todo o programa espacial Apollo em 1969.

Da perspectiva de Palo alto, um retorno ao ano festivo de 1999 parece quase dentro do alcance. Tudo que reluz parece ouro. Milhares de novas empresas de internet são lançadas a cada ano, e as valorizações das empresas web 2.0 aumentaram; e não inteiramente sem razão, talvez duas a seis dessas empresas recém-criadas cruzarão a linha de valorização de US$ 1 bilhão, cinco anos depois de sua criação.

Afinado com essa nova vida para a nova economia, o Google comandou um movimento paralelo que quase dobrou os salários dos engenheiros de computadores mais talentosos nos últimos três anos. Além dos dólares, basta assistir ao filme A Rede Social, para ver como o Facebook e seus 800 milhões de usuários captaram o novo espírito da época.

A dissociação econômica dos computadores e de tudo o mais, gera mais perguntas do que respostas, e apenas sugere o estranho futuro para o qual as tendências de hoje caminham. Os supercomputadores se tornariam motores poderosos para a criação milagrosa de formas inteiramente novas de valor econômico, ou apenas virariam armas poderosas para reformar estruturas existentes e, por natureza, implacáveis? Como se mede a diferença entre progresso e mera mudança? Quanto há de cada um desses?

Quatro.

Se ocorre um progresso científico e tecnológico significativo, seria razoável esperar maior prosperidade econômica (embora essa possa ser contrabalançada por outros fatores). E também o inverso: se os ganhos econômicos, medidos por indicadores-chave, foram limitados ou inexistentes, talvez o mesmo tenha ocorrido com o progresso científico e tecnológico.

Portanto, na medida em que o crescimento econômico é mais fácil de quantificar que o progresso científico ou tecnológico, os números econômicos conterão pistas indiretas, mas importantes.

O desenvolvimento econômico isolado mais importante dos últimos tempos foi a estagnação geral de salários e rendas desde 1973, o ano em que os preços do petróleo quadruplicaram.

Para uma primeira aproximação, o progresso em computadores e o fracasso em energia parecem ter quase se anulado mutuamente. Como Alice na corrida da Rainha das Copas, nós, e nossos computadores, fomos obrigados a correr cada vez mais, para ficar no mesmo lugar.

Tomados pelo valor nominal, os números econômicos sugerem que, a noção de um progresso vertiginoso e em todos os âmbitos, errou feio o alvo. Quem acreditar nos dados econômicos terá de rejeitar o otimismo do establishment (status quo) científico. O futuro econômico parecia muito diferente nos anos 1960.

Em seu Best-seller de 1967, “O Desafio Americano”, Jean-Jacques Servan-Schreiber argumentou que a aceleração do progresso tecnológico alargaria a distância entre os EUA e o resto do mundo. Segundo o autor, a diferença entre os EUA e Europa (exceto Suécia) cresceria de uma diferença de tipo, comparável à diferença entre Europa e Egito ou Nigéria.

Com isso, os americanos enfrentariam menos pressão para competir: “Em 30 anos, os EUA serão uma sociedade pós-industrial. Serão só quatro dias de trabalho por semana e sete horas de trabalho por dia. O ano terá 39 semanas de trabalho e 13 semanas de férias. Somando-se os fins de semana e feriados, isso resultará em 147 dias de trabalho e 218 dias livres por ano. Tudo isso dentro de uma única geração.”

Precisamos resistir à tentação de descartar o otimismo da era espacial de Servan-Schreiber para compreender como o consenso que ele representava poderia ter estado terrivelmente equivocado – e como, em vez disso, para muitos americanos, o Quarto Mandamento (“Lembra-te do dia de descanso, para o santificar”) foi esquecido.

Cinco. A desaceleração da tecnologia ameaça toda a ordem política moderna, que se apoia no crescimento fácil e contínuo.

O toma-lá-dá-cá das democracias ocidentais depende da ideia de que podemos criar soluções políticas que capacitem a maioria das pessoas a ganhar sempre durante a maior parte do tempo. Mas, em um mundo sem crescimento, podemos esperar um perdedor para cada ganhador.

Muitos suspeitarão que os vencedores estão envolvidos em alguma maracutaia, de modo que podemos esperar uma rudeza cada vez mais deplorável em nossa política. Podemos testemunhar os princípios de um sistema de soma zero em política nos EUA e Europa ocidental, na medida em que os riscos mudam de ganhar menos para perder mais, e que nossos líderes procuram desesperadamente soluções macroeconômicas para problemas que não foram primariamente de economia por muito tempo.

O nome mais comum para uma ênfase mal colocada em política macroeconômica é “keynesianismo”. A despeito de seu brilhantismo, John Maynard Keynes sempre foi uma fraude, e sempre houve um pouco de tapeação no estímulo fiscal em massa e na correlata impressão de papel-moeda. Mas temos que reconhecer que essa fraude curiosamente pareceu funcionar por muitas décadas.[1]

O forte vento de popa científico e tecnológico do século 20 potencializou muitas décadas economicamente ilusórias. Mesmo durante a Grande Depressão dos anos 30, a Inovação levou a avanços em campos como rádio, cinema, aeronáutica, eletrodomésticos, química de polímeros e recuperação secundária de petróleo. Apesar de seus muitos erros, os agentes do New Deal impeliram fortemente a inovação. Os déficits do New Deal foram facilmente quitados pelo forte crescimento das décadas seguintes.

Durante a Grande Recessão dos anos 2010, ao contrário, nossos líderes políticos debatem estreitamente questões fiscais e monetárias com muito mais erudição, mas adotaram uma mentalidade de “Culto à Carga[2] com respeito à inovação futura.

À medida que os anos passam e a carga não chega, nós acabamos duvidando se ela algum dia voltará. A era das bolhas monetárias terminará naturalmente em austeridade real.

Uma pessoa perversa poderia até perguntar se “economias do lado da oferta” realmente foram o tipo de senha para “keynesianismo”. Por enquanto, basta reconhecer que alíquotas fiscais margtinalmente mais baixas podem não ocorrer e não substituiriam a muito necessária construção de centenas de novos reatores nucleares.

Seis. Responder à questão de se houve ou não uma desaceleração tecnológica está longe de ser uma tarefa tranqüila. A questão crítica de por que tal desaceleração parece ter ocorrido é ainda mais difícil, e não há espaço para tratá-la por completo aqui. Encerremos com a com a questão correlata de o que pode ser feito agora.

Mais sucintamente, será que nosso governo pode religar o motor parado da inovação? O Estado pode impulsionar com sucesso a ciência; não há por que negá-lo. O Projeto Manhattan e o programa Apollo nos lembram dessa possibilidade.

Mercados livres podem não financiar tanta pesquisa básica quanto necessário. Um dia após Hiroshima, o New York Times pòde, com alguma razão, pontificar sobre a superioridade do planejamento centralizado em matérias científicas: “Resulta final: uma invenção (a bomba nuclear) que foi dada ao mundo em três anos teria tomado talvez meio século para se desenvolver se tivéssemos que depender de pesquisadores ‘primas donnas’ que trabalham sozinhos”.

Mas isso era outra época. A maioria de nossos líderes políticos não é formada por engenheiros ou cientistas. Hoje, uma carta de Einstein ficaria perdida na sala de correio da Casa Branca, e o Projeto Manhattan nem teria começado; ele com certeza não poderia ser concluído em três anos. Não conheço um único líder político nos EUA, seja ele democrata ou republicano, que cortaria gastos com saúde para liberar dinheiro para pesquisa em biotecnologia – ou, mais geralmente, que faria cortes sérios no sistema de previdência para liberar dinheiro sério para grandes projetos de engenharia. Robert Moses, o grande construtor da cidade de Nova York dos anos 1950 e 1960, ou Oscar Niemeyer, o grande arquiteto de Brasília, pertencem a um passado em que as pessoas ainda tinham ideias concretas sobre o futuro.

Os eleitores hoje preferem casas vitorianas. A ficção científica ruiu como gênero literário. Homens chegaram à Lua em julho de 1969 e Woodstock começou três semanas depois. Com o benefício do olhar retospectivo, podemos ver que foi aí que os hippies se apoderaram do país e que a verdadeira guerra cultural sobre o progresso foi perdida.

Os hippies envelhecidos de hoje não compreendem mais que existe uma grande diferença entre a eleição de um presidente negro e a criação de energia solar barata; em suas mentes, o movimento pelos direitos civis caminha em paralelo ao progresso geral em todos os lugares.

Por causa dessas confusões, a esquerda progressista dos anos 1960 não consegue perguntar se as coisas realmente não poderiam ficar piores. Eu me pergunto se as intermináveis falsas guerras culturais em torno das políticas de identidade não serão a principal razão de termos ignorado a desaceleração tecnológica por tanto tempo.

Seja como for, após 40 anos à deriva, não é fácil encontrar o caminho de volta para o futuro. Para haver um futuro, seria bom que começássemos a refletir mais sobre ele.

O primeiro passo – e o mais difícil – é perceber que estamos em um deserto, e não em uma floresta encantada...



[1] Único país no mundo onde a proliferação do papel-moeda não provocava inflação.

[2] Uma metáfora americana muito semelhante à metáfora brasileira do Delfim Neto: de primeiro deixar o bolo crescer para depois repartir. E até agora o bolo não foi repartido. Assim funciona também a metáfora do “Culto à Carga”.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Ao belo Hino... Que ganhou o concurso do Hino Nacional Brasileiro, mas que não levou, mas da República se tornou...

José Carlos Ramires

Colaborador

18/11/2011

Em 20 de janeiro de 1890 é escolhido no Teatro Lírico do Rio de Janeiro este belo hino que ganha o concurso na escolha do Hino Nacional promovida pelo primeiro governo republicano mas que de fato não leva a glória de sê-lo, e que, por merecimento, se transforma, em minha opinião, num dos mais belos hinos dos que já ouvi, nestes já longos anos de vida. Em 21 de janeiro de 1890, por Decreto do Governo Provisório, ele é definido como o Hino Oficial da Proclamação da República. Um hino com bela sonoridade, musicalidade e de fácil assimilação para a memorização, senão da letra, pelo menos da música, que linda, e muito, de fato é... De tão linda a música e de um refrão tão forte, um trecho dele foi usado no samba-enredo da Escola de Samba “Imperatriz Leopoldinense”, vencedora do desfile de comemoração do centenário da Proclamação da República no ano de 1989 e a frase “Liberdade, Liberdade, abre as asas sobre nós”, ficou marcada na mente e nas lembranças de muitos.

Lembro-me que este hino era muito cantado em todas as escolas brasileiras, assim como também o eram, como não poderia deixar de ser, dos Hinos Nacional, da Independência e da Bandeira. Hoje, não sei, mas penso que, poucas escolas devam todos cantá-los, sendo os únicos, talvez, os hinos Nacional Brasileiro e da Bandeira, e raramente os hinos da Independência e da República... Uma pena, mas canções modernas e atuais, são ensinadas aos alunos pequenos, nas aulas de música, mas os tradicionais Hinos não... Poucos conhecem e sabem cantá-los... Uma pena...

Este belo poema musicado, foi escrito por José Joaquim de Campos da Costa de Medeiros e Albuquerque, um poeta, jornalista e membro da Academia Brasileira de Letras e da Academia das Ciências de Lisboa, sendo a peça musical, ainda tão bela quanto, e que adorna este poema, de autoria do maestro Leopoldo Augusto Américo Miguez.

O primeiro, um poeta, escritor, um Pernambucano de Recife, nascido em 04 de setembro de 1867, tendo falecido na cidade do Rio em 09 de junho de 1934. O outro, grande musicista, compositor, violinista e maestro, natural de Niteroi, Estado do Rio, nascido em 09 de setembro de 1850 e falecido, também na cidade do Rio, em 06 de julho de 1902, com apenas 52 anos.

A letra deste hino, por conta do excesso de erudição de Medeiros e Albuquerque, seu autor, torna a sua compreensão em uma tarefa extremamente complexa e difícil. Vejamos no que poderemos decodificar e fazer-se entender do significado escondido desta letra, de alta sonoridade poética, mas de difícil interpretação...

“Que este hino seja um manto desdobrado de luz sob a grandeza dos céus deste Brasil...

Que este canto rebelde venha redimir as mais repugnantes desonras do passado.

Que seja ainda um Hino de Glória, que fale das esperanças de um novo futuro, e quem, por este futuro surjir e lutar por ele, seja embalado por grandes visões de conquistas.

Liberdade! Liberdade! Que você, Liberdade, abra as asas sobre nós e nos proteja com seu Manto Protetor. Nas tempestades das Lutas, faz com que ouçamos a tua Voz...

Pois que nós nem acreditamos que há tão pouco tempo tenha havido escravos entre nós, neste nosso nobre País... Hoje não, pois que a luz vermelha do amanhecer, encontra somente irmãos, e não inimigos tiranos. Somos todos iguais, e no futuro saberemos levar a augusta bandeira de nossa Pátria, pura e vitoriosa, brilhando no mais alto lugar...

Liberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós. Que nas tempestades das lutas ouçamos a tua voz...

Se for necessário, que de peitos valentes, corra sangue em nossa bandeira, o sangue vivo do herói Tiradentes, que já batizou este corajoso pavilhão!

Mensageiro de Paz, Paz queremos, que é de amor a nossa força e o nosso poder. Mas que da Guerra, nos momentos decisivos, heis de ver-nos lutar e vencer...

Liberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós... Que das lutas na tempestade, ouçamos a tua voz!

É preciso que o Grito do Ipiranga, seja um Grito orgulhoso de Fé!

O Brasil, de pé, já surgiu libertado sobre as reais cores vermelhas-escuras... (Casa Imperial)

Eia pois brasileiros, vamos em frente! Que colhamos vistosas glórias!

Que o nosso País seja triunfante! Uma Terra Livre... de Livres Irmãos!

Liberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós... Que das lutas na tempestade, ouçamos a tua voz!”

Que haja esperança ainda em nosso futuro e que no porvir de amanhã sejamos abençoados por uma verdadeira República, cujo significado em sendo “coisa pública” (res publica), que ela não seja enlameada, como vem sendo até agora... Que deixe de ser para alguns uma “coisa privada”, algo que seja propriedade de alguns, com benefícios para poucos, com custo de todos. E que tenhamos, enfim, neste porvir, uma verdadeira democracia e não um arremedo, um engodo...

E para tanto, que nas próximas eleições sejamos os portadores efetivos deste poder, do povo e para o povo, expurgando de modo definitivo os maus políticos enlameados pela sujeira podre da corrupção... Viva o Brasil e viva a República, a verdadeira República... Um basta aos desmandos, sejam eles quais forem...

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Chefe Olavo, um exemplo de cidadão que sempre foi e sempre será...

Chefe Olavo, uma figura exemplar, um cidadão por excelência, um homem simples, com humildade aflorando em sua pele, em seus atos e palavras. Seu nome completo, Olavo Ayres de Lima, tendo “y” no seu nome Ayres, que diz ele, não sabe de onde provem, ou pelo menos o do porquê de tão inusitado nome, segundo suas palavras. E que faz “questam” deste “y”, como sempre costuma dizer para o vocábulo “questão”, um cacoete lingüístico, talvez ligado ao caipirismo, por conta de suas origens e do local de seu nascimento, a bela Itapetininga, uma das cidades da média Sorocabana pertencente ao Quadrilátero Caipira, região formada pelas localidades de Sorocaba, Botucatu, Piracicaba e Campinas, de onde muitos músicos surgiram, e que, tal como os violeiros, cantadores do sertão, sanfoneiros e das famosas “duplas caipiras”, também o Chefe Olavo, nascido entre eles, contagiado foi pela virose musical muito forte da região, tornando-se um apaixonado pela música e de seus instrumentos de sopro, as cornetas, clarins e trumpetes... Em muitos bailes e orquestras, este músico Olavo, encantou e alegrou... Jovens e adultos.

Nascido em 23 de dezembro de 1923, de sua mãe d. Eugênia Ayres de Lima e de seu pai, Cesário Ayres de Lima, Olavo, um rapazote com seus 14 anos incompletos, chega a Santo Anastácio no último trimestre de 1937, que para ele, penso eu, deva ter sido uma experiência única e marcante.

Seu pai, Sr. Cesário, nascido em Ribeirão Preto, um rapaz que trabalhava como músico num circo, por uma dessas andanças circenses, chega a Itapetininga e lá conhece uma linda senhorita de nome bonito e charmoso, Eugênia... Com ela se casa, por lá fica e estabelece residência. Trabalha como músico e como funileiro na confecção de artigos de lata e de folhas-de-flandres, como canecos, funis, lamparinas e lampiões a querozene e outros produtos e artigos de ferro. Com d. Eugênia teve dois filhos, um que logo morre aos sete anos de idade e o segundo, Olavo, que por tal destino, acaba sendo filho único.

Como sabia escrever, seu Cesário arruma um trabalho num banco em Pirajú e para lá se muda. A família mora um tempo em Ipauçú e depois em Assis. Aqui nesta cidade passa a trabalhar na Estrada de Ferro Sorocabana, dando por vir a Santo Anastácio, com a mulher, d. Eugênia e seu filho Olavo, para trabalhar por alguns meses... E por aqui acabou ficando e montando residência. E de Santo Anastácio, ela e seu filho Olavo nunca mais saíram... E adotaram este rincão anastaciano, como lar definitivo...

D. Eugênia, por conta de sua atividade de parteira, profissão de prática adquirida ainda em Itapetininga, por obra e arte de uma enfermeira-parteira formada na Escola de Medicina de Curitiba, que muito a auxiliou nos altos de Itapetininga, muitos partos aqui executou e muitas crianças ao mundo ela apresentou.

Foram mais de duas mil crianças que de suas mãos nasceram. Muitas crianças e muitas estórias, de vidas ainda por contar, que de muitos não se sabe, mas ela, no seu mundo espiritual reservado, sabe quem e porque vieram, porque nasceram e um destes, de suas mãos nascido, neste momento escreve e a homenageia, e também a seu filho, e por isto e por muito mais, meus agradecimentos sinceros lhes dedica. A d. Eugênia, por meu nascimento e ao Chefe Olavo, por seus exemplos de cidadania, de humildade e de bondade.

Em Santo Anastácio, Olavo conhece uma graciosa jovem de nome Maria, que de Aparecida lhe completa. Casam-se na Igreja Paroquial de Santo Anastácio em 08 de dezembro de 1948, e deste matrimônio, três filhos nascem: Maria Eugênia, Darli e Oliver, e de seus casamentos, chefe Olavo e sua mulher Maria, hoje, sete netos e dois bisnetos possuem... Mas, muitos outros descendentes deixa o Chefe Olavo, seus pequenos e jovens escoteiros espalhados, que com certeza em seus corações e mentes, um gosto alegre de saudade a todos os remete.

A vida deste anastaciano de coração foi pautada por exemplos dignos de um verdadeiro cidadão, preocupado que era pelo encaminhamento dos jovens, nas sendas e nos ensinamentos do Velho Lobo, codinome de Benjamim Sodré, um Almirante, que escreveu o “Guia do Escoteiro”, de 1925, servindo a muitos grupamentos de escoteiros como guia e orientação em suas atividades e também ao Velho Lobo anastaciano, o Chefe Olavo.

Em 18 de março de 1967 é admitido na Venerável Loja Maçônica “José Bonifácio”, onde também se dedicou com muito amor e incansável labor, às lides e responsabilidades desta augusta e respeitável Ordem. Foram 44 anos de atividade ininterrupta...

Chefe Olavo, digno e diligente vereador na 7ª legislatura, de 1973 a 1977. Foi também Conselheiro Tutelar em nossa comunidade e, já de algum tempo, é membro honorário do Rotary Club desta cidade. A sua profissão sempre foi a de pintor, pintor de casas, de letreiros, de propagandas em painéis e de tudo que se relacionasse a letras e a escritos, e também pintor de todo tipo de equipamentos. Um incansável batalhador nesta lide.

Mas, de certo modo, o que ficou marcado em sua vida, foi a sua dedicação ao Escotismo em nossa terra. Em 1955 teve seu primeiro registro oficial na UEB – União dos Escoteiros do Brasil. Fundador e criador do Grupo Escoteiro Caiuá, nº 124 – UEB/SP.

Entretanto, desde 1938, com idade de 14/15 anos, sempre lidou com o escotismo, seja participando ou chefiando. Foram mais de 60 anos de luta e dedicação ao escotismo anastaciano. Muitas crianças e jovens anastacianos passaram pela orientação educadora do grande e agora “Velho Lobo”, o grande “Chefe”, o sempre e sempre Chefe Olavo...

A você, meu querido Chefe, os nossos agradecimentos e em nome de todos e por todos os seus pupilos escoteiros, um sempre e grandioso grito de “hurra”... E em especial, neste glorioso dia de 11 de novembro de 2011, véspera das festividades das comemorações republicanas, do dia da Bandeira e das comemorações dos 86 anos de emancipação político-administrativa de nosso município, quando a Câmara Municipal outorga e entrega ao Chefe Olavo, com justiça e glória, o seu bem merecido, justo e perfeito título de “Cidadão Anastaciano”, que em verdade, sempre foi e sempre será... Os nossos parabéns ao cidadão Olavo Ayres de Lima, o nosso sempre “Chefe Olavo”...

Um abraço especial, por três vezes...

José Carlos Ramires - jc_ramires@yahoo.com.br

11/11/2011