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quarta-feira, 6 de abril de 2016

06/04/2016 > A IMPORTÂNCIA DO PERDÃO E DA RECONCILIAÇÃO...

A IMPORTÂNCIA DO PERDÃO E DA
RECONCILIAÇÃO...
Do livro “Além do que se vê” de
Cláudio Roque Buono Ferreira,
Ex-Grão-Mestre do Grande Oriente de São Paulo - GOSP
José Carlos Ramires, um colaborador...
27/09/2013
Prolegômenos

Esta crônica de ensino e aprendizado moral trata do tema do perdão e da sua importância na reconciliação. Todos nós sabemos que a intolerância e as drogas são os piores males que levam o homem à barbárie e às condições sub-humanas.
Ela trata de uma das maiores virtudes de que homem pode ser possuidor, a do perdão, pois que esta virtude nos leva à seguinte, à da reconciliação, que é o que este mundo está precisando... De mais perdão e como conseqüência a reconciliação entre os homens...
Devemos sempre nos lembrar do exemplo de Christo: “Perdoai-os Pai, pois eles não sabem o que fazem”.
Em muitas passagens de nossas vidas enfrentamos situações aonde nos vimos sem saída, quando somos vilipendiados ou injustiçados. E nesta situação o melhor caminho é o do perdão e da reconciliação. Se tomarmos a iniciativa, o mundo será cada melhor, disto todos tenham certeza...

A Estória do Pequeno Zeca... E da Moral ensinada por seu Pai...

Ao voltar da aula o pequeno Zeca entra em casa batendo forte com os seus pés no assoalho da sala.
Nesse momento, seu pai, que estava indo fazer alguns serviços na horta, ao ver aquilo chama o garoto, de oito anos de idade, para uma conversa. Zeca o acompanha desconfiado. Antes que seu pai dissesse alguma coisa, fala com irritação, como se assim fosse apropriado:
       – Pai... Estou com muita raiva. O Juca não poderia ter feito aquilo comigo. Desejo tudo de mal para ele.
Sendo um homem simples, mas cheio de sabedoria, o pai escuta calmamente o filho que continua reclamando.
       – O Juca me humilhou na frente dos meus amigos. E isso eu não aceito! Espero que ele fique doente e sem poder ir à escola, disse raivoso.

O pai, calado, ouve toda aquela reclamação, enquanto caminha até um abrigo onde guardava um saco cheio de carvão. Levou o saco até o fundo do quintal e o menino o seguiu... Quieto. Zeca observa o pai abrir aquele saco e antes mesmo que ele pudesse fazer uma pergunta, o pai lhe faz uma proposta:
       – Filho, faz de conta que aquela camisa branquinha que está secando no varal é o seu coleguinha Juca e que cada pedaço de carvão deste saco é um mau pensamento seu dirigido a ele. Jogue todo o carvão deste saco naquela camisa, até que não reste mais nenhum pedaço. Depois eu volto para ver como ficou...

O menino achou que seria uma brincadeira divertida e tratou logo de executar a ordem do pai. Como o varal com a camisa estivesse longe do menino, poucos pedaços de carvão acertavam o alvo. Em uma hora o menino finalizou a tarefa. O pai que observara tudo de longe, aproxima-se do menino e lhe pergunta:
       – Filho, como está se sentindo agora?
       – Estou cansado... Mas alegre, pois que acertei alguns pedaços de carvão na camisa. Não muito, mas acertei...
O pai olha para o filho, que fica sem entender a razão daquela brincadeira, e carinhoso lhe fala:
       – Vamos até o meu quarto que eu quero lhe mostrar uma coisa muito
importante e que você jamais esquecerá.

Ele acompanha o pai até o seu aposento e é colocado na frente de um grande espelho do guarda-roupa, no qual pode ver seu corpo por inteiro. Que susto! Zeca apenas conseguia ver seus dentes brancos e os seus olhinhos pequenos, cheios de surpresa, pela sujeira do pó de carvão que cobria o seu rosto, seus cabelos e sua roupa. O pai, então, lhe diz carinhosamente:
       – Filho, você viu que a camisa lá no varal quase não se sujou. Mas, olhe para você. O mal que desejamos aos outros é semelhante ao que lhe aconteceu. Por mais que possamos prejudicar a vida de alguém com nossos pensamentos e obras, a borra, os resíduos e a fuligem ficam sempre em nós mesmos. O pequeno Zeca fica pensativo... E diz ao pai:
       – Pai, vou tomar um banho, me trocar e procurar o Juca. Preciso conversar com ele. Ele é meu melhor amigo, e não vale a pena ficar de mal dele... E os meninos se reconciliaram...

Um abraço fraternal a todos os Irmãos da Ordem Maçônica, sem exceção...

De um Zeca, o Zé Carlos... O Z. Ramires...

quinta-feira, 3 de março de 2016

03/03/2016 > Uma Homenagem ao Irmão José Giometti

CRÔNICA DA CIDADE – O DESTINO DOS TRENS

Autor: José Giometti
Lavínia, SP – 19/Mar/1044 <> Santo Anastácio, SP – 19/Set/2014

Cidadão, Companheiro, Irmão e Amigo...
De todas as horas e momentos
Saudade dos feitos perfeitos
E dos erros e acertos
Que por certo cometemos
Mas tenha certeza
Um dia nos encontraremos...
Onde e como não sei
Somente nós saberemos...

Neste próximo dia 19 de março, Gio, Irmão e Amigo, 72 anos completaria e com Saudade estamos todos, os de sua sempre confraria, a nossa querida Maçonaria. Treze anos de convívio irmanado, em todas as terças, nossos encontros marcados, marcados que foram de convivência e harmonia. Às vezes descuidos cometemos, mas sem ranço e nem rancor, pois que a vida nos ensina, que sempre com fraterno amor, todos os desacertos resolvemos. Sem mágoa e muito menos rancor.
Deste seu amigo, como homenagem, deixo a todos, esta crônica de sua autoria.

José Carlos Ramires
Z. Ramires
Março/2016

    O
s raios de sol da tarde de verão incidiam inclementes sobre o telhado da estação ferroviária, cujo reflexo dava a nítida impressão de que tremulava. Ouviu-se o apito do trem que iria fazer a curva, bem antes de vê-lo se aproximar. O velho matuto mineiro virou-se para o filho que permanecia sentado sobre a mala de fibra e falou, Fio, recóie os trem qui o coiso vem chegando...
     Q
uando era pequeno adorava ver o trem. Aquela enorme serpente, resfolegando fumaça pelas ventas, os vagões de madeira pintados de vermelho, a multidão de cabeças postadas nas janelas, o telelé das rodas deslizando ruidosos pelos trilhos e dormentes. O trem representava à época, a materialização da força, do poder, da velocidade e, sobretudo, da expectativa de aventura. Era a modernidade.
    D
e repente, o trem desapareceu de nossas paisagens, de nossa vidas, de uma maneira tão imperceptível quanto um furúnculo drenado espontaneamente. O que permaneceu foi a sua utilização no vernáculo caboclo, que lança mão do verbete nos mais variados sentidos, tanto para designar algo bom – “Ô trem bão!”, quanto algo ruim – “Ô trem ruim, siô!”.
    O
s horários de circulação foram aos poucos se espaçando, o número de vagões diminuindo, as estações endo lacradas, restando o tráfego de alguns poucos trens de carga e, quando se deu conta, não havia mais manutenção dos leitos ferroviários, as estações abandonadas , o mato passou a tomar conta dos trilhos, os dormentes apodreceram e os prédios, antes suntuosos e imponentes, agora tornaram-se um espectro macabro, fruto de depredações, servindo de refúgio para desocupados e usuários de drogas. Da alegria da chegada contrapondo com a tristeza da partida, somente restou um sentimento de perda recendendo a saudade.
    M
as isso não é tudo. Recentemente acompanhei uma rodada de discussões cuja temática referia-se ao problema crônico do transporte viário e escoamento da produção de grãos e outros produtos agrícolas para as regiões abrangidas pelo MERCOSUL. O alto custo do transporte rodoviário, as taxas de pedágio, a limitação do volume transportado, o desgaste das estradas e tantos outros argumentos, trouxeram à mesa de debates justamente o quanto a ferrovia faz falta neste momento da economia nacional. Como diria o caboclo mineiro: “A derrocada da ferrovia foi um trem mal pensado e precipitado!”.

José Giometti - Santo Anastácio, março de 2004

Publicado no livro, "Caçador de Poetas" do Rotary Club, Distrito 4510 - páginas 26-27
Copyright - Livraria Milani 2014 - 1ª Edição
Mário Milani - Rotary Marília Leste

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

VOCÊ SABE VOTAR?



VOCÊ SABE VOTAR?
Colaboração
José Carlos Ramires
Um cidadão brasileiro...
26/09/2014
Faltando nove dias para as eleições de 2014
Crônica publicada em 26/set/2014 no jornal “O Oeste Paulista” de Santo Anastácio, SP

Você, meu caro leitor, que será um eleitor quando ficar de pé em frente a um pequeno aparelho conhecido por Urna Eletrônica. Você meu caro leitor e também eleitor, você sabe votar?
Pense bem antes de responder... Saberia nos dizer em quem votou na última eleição em 2010? Não quero saber de presidente ou governador... Quero saber em quem votou para deputado estadual, federal e senador. Ainda se lembra? Se a resposta for sim, provavelmente o seu voto foi consciente, caso contrário... Bem... Neste caso, cada um que tenha uma resposta...
A maioria dos eleitores acha mais importante votar nos cargos de funções executivas, presidente e governador.
No passado, votar em bichos, tais como o rinoceronte Cacareco ou o macaco Tião, expressou o descaso dos eleitores com as eleições legislativas. E muitos dizem que se constituem num voto de protesto.
Após a entrada das urnas eletrônicas, os animais são agora os da espécie humana, uma vez que não existe candidato animal que não seja da espécie “homo sapiens”. Mas ainda assim muitos “homos” esquisitos foram eleitos. Um deles, uma “figura estranha”, foi eleito em 2010 com expressiva votação.
As eleições estão chegando e até agora, segundo pesquisas do Ibope, apenas 12% dos paulistas e 11% dos cariocas já sabem em quem votar a Deputado Federal. E no âmbito estadual, tal fato também se repete. Isto nos dois estados ditos por muitos como os mais esclarecidos... Vejam a que ponto se chegou: quase 90% dos eleitores não sabem em quem votar!
Conclui-se daí, que o voto será nulo ou em branco, para deputados, e se indicar um nome, há que se digitar um número, e neste caso tal voto dependerá da indicação de alguém de sua família, ou de conhecidos.
Este é o diálogo mais comum... “Você tem em quem votar? Não? Então vote neste aqui.” E recebe um santinho com o número marcado, que é prá não se esquecer. Não é assim?
Ou então, quando no seu caminho para o voto, alguém lhe entrega discretamente alguns santinhos. Ou, se ninguém aparecer, provavelmente pegará um deles que estão no chão, que muitos pisotearam, e talvez, muitos destes eleitos nos pisotearão com suas espertezas e vilanias...
Após 30 dias da eleição de 2010, 22% dos eleitores não se lembravam em quem votara para deputado federal, 23% para deputado estadual e 21% a senador . Mas, para presidente da República, apenas 3% não se lembravam e para governador, o índice é um pouco maior, 11%. Neste caso os índices maiores ao esquecimento estão nos nossos representantes na Câmara e no Senado federal, e também nas Assembleias estaduais.
Na visão do brasileiro, o Presidente da República ainda é o principal mandatário, o ocupante do cargo capaz de resolver e aprovar as mais prementes e importantes questões que afligem o país. E que o Congresso Nacional é um lugar onde 594 políticos apenas criam problemas e só querem se dar bem.
Muitos ainda acham e parecem viver no século 19, quando o poder ainda era exercido pelo Imperador D. Pedro II, que derrubava o Parlamento (poder legislativo na época) sempre quando necessário. Ou então, no período da Ditadura militar, de 1963 a 1985, quando o Congresso Nacional funcionou boa parte do tempo, com as mãos e pés atados, sem condições de exercer o seu poder, ou seu papel, sob o risco de ser eliminado ou de perder o mandato...
E atualmente, depois da publicação da Constituição dita cidadã, os brasileiros se esquecem de que hoje, no desenho do sistema institucional, é justamente o Congresso que mais influencia as nossas vidas. Quem governa o país é o Congresso. É de lá que saem as principais mudanças, com aplicação imediata, ou com as manobras secretas de interesses difusos que, sem que se perceba, levam à falta de recursos para a saúde, educação e segurança.
E infelizmente, por causa dessa indiferença, ainda há brasileiros que votam em macacos e rinocerontes, elegendo ervas daninhas dos mais variados tipos.
Como o ser humano ainda não desenvolveu um sistema político menos imperfeito que a democracia, viver com seus desvios, ainda é um desafio e um aprendizado...
Só podemos dar uma opinião ou um conselho... Não deixem para escolher no último momento.
Conversam, discutam e escolham um candidato, não porque seja bonito, e nem por que ganhou alguma coisa em troca do voto. E muito menos ainda, não votem por protesto. Este protesto é inócuo.
De ervas daninhas já estamos cansados! Chega, vamos dar um basta! Não se esqueçam de que tais ervas são pragas! E pragas precisam ser eliminadas! Elas enfeiam o jardim de nossas casas...

26/09/2014
José Carlos Ramires

A MORTE DE UMA SENHORA...



A MORTE DE UMA SENHORA...
José Carlos Ramires
Colaborador
11/set/2014
Crônica publicada no jornal "O Oeste Paulista" em 12/09/2014 de Santo Anastácio, SP

Sempre que cruzo, ou pela esquina passo, entre a avenida D. Pedro II e Rua Oswaldo Cruz, junto à principal praça da cidade, sempre me chamou atenção a presença de um quase-monumento, bem neste cruzamento, ilustrando a morte de uma senhora.
Um monumento de madeira, que um dia pertenceu a um ser vivente, uma árvore. Não me lembro de qual espécie seria. Mas era uma árvore e isto já bastava. E agora, como que num brado de basta, penso no que teria acontecido.
Por que e por qual motivo esta senhora se encontra inerte e sem vida? Por um motivo ou outro, não seria preciosa a sua sombra, ao entardecer dos dias quentes da cidade? Por conta disto, todas as portas comerciais se adaptaram, colocando toldos verticais, para se esconderem nas sombras de um sol implacável no caminho do seu entardecer. Esta bela senhora, com sua frondosa sombra protegia, sem dúvida, os belos olhos dos compradores e trabalhadores que por ali compravam ou trabalhavam...
Mas a sua presença incomodava a visão dos negócios, e ela foi eliminada. Mas o seu cadáver lá se encontra. Este tronco inerte agora é um monumento, bem na esquina. E neste quarteirão da avenida D. Pedro, na verdade, uma menina, duas senhoras e cinco senhoritas, todas de verde, ainda vivem, como sobreviventes de uma luta ingrata.
Pois que das árvores tudo devemos; e das vidas vegetais, seja por um motivo ou outro, destas espécies vitais, somos eternos devedores. Sem estas espécies não sobreviveríamos...
Assim, como dizemos que a água é a fonte da vida, ainda complementamos que das vidas vegetais e do ar que compõe a atmosfera, somos totalmente dependentes e até da respiração destas vidas verdes (clorofila), somos eternamente gratos. Pois que como resultado desta respiração, estas vidas, aparentemente estáticas, sugam da atmosfera o oxigênio e o dióxido de carbono, o temível CO2, que são o alimento, junto com a água, que dão vida, à vida que todos vivemos. Graças ao Grande Criador do Universo, temos a presença do CO2 na atmosfera, pois que se assim não fosse, não teríamos vida neste planeta de nome Terra.
Sim, isto mesmo, sem o CO2 na atmosfera, não teríamos as árvores, não teríamos o feijão, o arroz, o trigo, o milho, a cana-de-açúcar, e tudo aquilo que de alimento animal o homem produz, como os bovinos, suínos, ovinos, os galináceos, e como consequência, tudo o que deles derivam: as carnes, ossos, leites, derivados de leite, etc., num mundo enorme de coisas das quais vivemos e nos alimentamos.
Não teríamos os móveis, as casas de madeira, os vinhos, os uísques, a cachaça, que muitos a apreciam, as cervejas dos fins-de-semana antecipados, nas sextas-feiras  com os amigos, o “repiauer” de nossas vidas. E o mais importante, não existiriam as conversas jogadas fora, as fofocas, os discursos inflamados, as opiniões formadas e também das desinformadas, enfim, não existiria o mais importante, não existiria a Vida... Como a conhecemos...
Ainda bem que existe o CO2, pois que sem ele não viveríamos. Isto pode parecer um paradoxo e uma heresia para muitos, como por exemplo, para os adeptos e crentes dos desastrados relatórios bienais do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change), Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas, que, na sua essência, dizem que o homem é o responsável pelas emissões de CO2 que provocam o aquecimento global.
Supondo então, que se não houvesse o homem, não haveria CO2 na atmosfera,  não teríamos também a vida vegetal e sem esta vida vegetal, o mundo como hoje conhecemos não existiria. Nós não existiríamos... E nós, simples mortais, não estaríamos aqui, para contar estas estórias, eu não estaria escrevendo, e vocês, meus queridos leitores, não estariam lendo estas palavras...
Não teria havido, este 11 de setembro, e nem o de 2001, das torres gêmeas de Nova Iorque, abatidas que foram por conta da insensatez de alguns adeptos da violência para a conquista de suas verdades...
E que no próximo dia 02 de outubro ainda estejamos vivos para escolhermos os nossos dirigentes e representantes nas três Casas Legislativas...
Sem a água, sem o ar que respiramos, sem o CO2 (detestado pelos “ipecececistas”), ou seja, sem a atmosfera não existiria o mundo... Sem a inclinação em torno do Sol não existiríamos... Sem o caminho elíptico da Terra em torno do Sol, sem o nosso satélite, a Lua, não teríamos os movimentos dos oceanos e mares, e não suportaríamos a vida.
Sem tudo isto, e por muito mais, não teríamos as quatro estações do ano. Não teríamos a Primavera das Flores, o Verão da Fartura, o Outono da Preparação e o Inverno do Recolhimento... Não teríamos os dias longos e curtos... E nem as noites curtas e longas... Seria um Mundo sem Vida e um mundo sem vida seria um Mundo sem... Bem... O complemento desta frase, que cada um faça como quiser ou como achar de melhor... Portanto, finalizando, vivamos bem as nossas vidas, junto com os outros e com todos... Sejamos felizes... Com respeito, tolerância e harmonia...
Um bom fim-de-semana a todos...
Z. Ramires

terça-feira, 22 de novembro de 2011

O FIM DO FUTURO...

O FIM DO FUTURO...

Uma crônica interessante, intrigante e preocupante...

José Carlos Ramires

Peter Thiel

National Review

Um.

A civilização ocidental moderna se sustenta sobre os pedestais gêmeos da ciência e da tecnologia. Juntos, esses dois campos nos asseguram que a história de progresso ininterrupto do século 19 segue intacta. Sem eles, os argumentos de que vivemos uma decadência cultural – desde o colapso da arte e da literatura após 1945 ao totalitarismo do politicamente correto e aos mundos sórdidos dos reality shows – ganhariam muito mais força.

Os liberais afirmam que a ciência e tecnologia continuam saudáveis. Os conservadores às vezes dizem que elas são falsas utopias; mas os dois lados concordam que o firme desenvolvimento e aplicação das ciências naturais devem continuar.

No entanto, durante a Grande Recessão, que começou em 2008 e ainda não terminou, essas grandes expectativas foram suplementadas por uma necessidade desesperada. Precisamos de empregos bem pagos para nem pensar em competir com China e Índia por empregos mal remunerados. Precisamos de crescimento para preencher as expectativas ilusórias de nossas aposentadorias e dos nossos fugidios Estados de bem-estar Social. Precisamos de Ciência e Tecnologia para nos tirar do profundo buraco econômico e financeiro, embora a maioria de nós não possa separar ciência de superstição ou tecnologia de mágica.

Sabemos que o otimismo desesperado não vai nos salvar. O progresso não é automático nem mecânico, é raro. Aliás, a história única do ocidente é a exceção da regra de que a maioria dos seres humanos existiu num estado brutal, imutável e empobrecido por milênios. Mas não há uma lei garantindo que a ascensão do Ocidente vá continuar.

Portanto, faríamos bem em analisar a opinião amplamente aceita de que os Estados Unidos estão no caminho errado (e já há algum tempo). Seria bom também perguntar se o progresso não está se saindo tão bem como alardeiam e, talvez, tomar medidas excepcionais para conter e reverter um possível declínio.

O estado atual da verdadeira ciência é a chave para saber se há realmente algo de podre nos EUA. Mas qualquer avaliação tropeça em um desafio quase intransponível. Quem poderá avaliar a saúde do universo do conhecimento humano, uma vez que muitos campos científicos ficaram complexos, esotéricos e especializados demais?

Quando qualquer campo exige metade de uma vida de estudos para que seja dominado, quem poderá comparar adequadamente a taxa de progresso em nanotecnologia, criptografia, teoria das supercordas e 610 outras disciplinas? Aliás, como saber se os chamados cientistas não são legisladores e políticos disfarçados, como alguns conservadores suspeitam em campos tão díspares, como mudanças climáticas e biologia evolutiva, como eu vim a suspeitar em quase todos os campos?

Por enquanto, vamos reconhecer esse problema de medição, mas não permitir que ele paralise a investigação sobre a modernidade antes de ela começar.

Dois.

Confrontado às grandiosas esperanças dos anos 1950 e 1960, o progresso tecnológico ficou devendo. O exemplo mais literal da não aceleração é: não estamos nos locomovendo mais depressa. O aumento da velocidade de locomoção ao longo dos séculos – veleiros cada vez mais rápidos nos séculos 16 e 18, trens cada vez mais velozes no século 19 a carros e aviões no século 20 - foi revertido pela desativação do Concorde em 2003, sem falar dos atrasos em aeroportos.

Os atuais defensores de jatos espaciais, férias lunares e exploração tripulada do Sistema Solar parecem vir de outro planeta. Uma desbotada capa de Popular Science de 1964 – “Quem o levará para voar a 3.200 km/h?” – recorda vagamente os sonhos de uma era passada. A explicação oficial para a desaceleração nas viagens gira em torno do alto custo do combustível, o que aponta para o fracasso ainda maior na inovação energética.

Os preços reais do petróleo excedem hoje os da catástrofe de Jimmy Carter de 1979-80. O apelo de 1974 de Nixon para uma plena independência energética até 1980 deu lugar ao apelo de 2011 de Obama por um terço de independência de petróleo até 2020.

A indústria nuclear e sua promessa de 1954 de “energia elétrica barata demais para se medir” foi derrotada há muito tempo pelo ambientalismo e a preocupação com a proliferação nuclear.

Não se pode, em boa consciência, encorajar um estudante universitário em 2011 a estudar energia nuclear como carreira. A “tecnologia limpa” virou um eufemismo para “energia cara demais” e, no Vale do Silício, virou também um termo cada vez tóxico para maneiras quase garantidas de perder dinheiro.

Sem inovações drásticas, a alternativa ao petróleo mais caro poderá acabar sendo não as energias mais limpas e muito mais caras, extraídas de vento e sol, mas a do menos caro e mais sujo carvão. Para fins atuais, basta notar que 40% da carga ferroviária envolve o transporte de carvão.

No caso da agricultura, a fome tecnológica pode levar a uma fome real ao velho estilo. O esmorecimento da verdadeira Revolução Verde – que aumentou em 126% a produção de grãos de 1950 a 1980, mas progrediu apenas 47% depois disso, mal conseguindo acompanhar o ritmo do crescimento da população global – encorajou outra “revolução verde”, esta mais intensamente divulgada e de um caráter mais político e mais incerto.

Podemos embelezar a Primavera Árabe de 2011 como alvissareiro subproduto da Era da Informação, mas não deveríamos desconsiderar o papel principal da disparada dos preços dos alimentos e das muitas pessoas desesperadas que ficaram mais famintas que temerosas.

Apesar de a inovação em Medicina e Biotecnologia não ter estagnado completamente, também há muita redução das expectativas. Em 1970, o Congresso americano prometeu a vitória sobre o câncer em seis anos. Quatro décadas depois, podemos estar 41 anos mais perto, mas a vitória parece muito mais distante.

Os políticos de hoje achariam muito mais difícil persuadir um público mais cético a começar uma guerra comparável contra o Mal de Alzheimer – apesar de quase um terço dos americanos com 85 anos ou mais, sofrerem de alguma forma de demência. A medida mais crua, que é a expectativa de vida americana, continua aumentando, mas com certa desacelaração – de 67,1 anos para homens em 1970 para 71,8 em 1990 e 75,6 em 2010.

Olhando para o futuro, vemos muito menos drogas revolucionárias sendo desenvolvidas – talvez por causa da intransigência da FDA (agência federal americana que controla alimentos e remédios), talvez pela inépcia dos pesquisadores de hoje e pela incrível complexidade da biologia humana.

Nos próximos três anos, as grandes companhias farmacêuticas perderão cerca de um terço de seu fluxo de receita corrente com a expiração de patentes, de modo que, numa resposta perversa, mas compreensível, elas começaram a liquidação dos departamentos de pesquisa que deram tão poucos frutos na última década e meia.

Três.

Por exclusão, os computadores viraram a única grande esperança para o futuro tecnológico. A aceleração na Informática contrasta dramaticamente com a desaceleração em todo o resto.

A Lei de Moore, que prevê a duplicação do número de transistores que pode ser empacotado em um chip a cada 18-24 meses, permaneceu verdadeira por mais tempo do que todos (inclusive Moore) teriam imaginado em 1965. Um celular em 2011 tem mais poder de computação do que todo o programa espacial Apollo em 1969.

Da perspectiva de Palo alto, um retorno ao ano festivo de 1999 parece quase dentro do alcance. Tudo que reluz parece ouro. Milhares de novas empresas de internet são lançadas a cada ano, e as valorizações das empresas web 2.0 aumentaram; e não inteiramente sem razão, talvez duas a seis dessas empresas recém-criadas cruzarão a linha de valorização de US$ 1 bilhão, cinco anos depois de sua criação.

Afinado com essa nova vida para a nova economia, o Google comandou um movimento paralelo que quase dobrou os salários dos engenheiros de computadores mais talentosos nos últimos três anos. Além dos dólares, basta assistir ao filme A Rede Social, para ver como o Facebook e seus 800 milhões de usuários captaram o novo espírito da época.

A dissociação econômica dos computadores e de tudo o mais, gera mais perguntas do que respostas, e apenas sugere o estranho futuro para o qual as tendências de hoje caminham. Os supercomputadores se tornariam motores poderosos para a criação milagrosa de formas inteiramente novas de valor econômico, ou apenas virariam armas poderosas para reformar estruturas existentes e, por natureza, implacáveis? Como se mede a diferença entre progresso e mera mudança? Quanto há de cada um desses?

Quatro.

Se ocorre um progresso científico e tecnológico significativo, seria razoável esperar maior prosperidade econômica (embora essa possa ser contrabalançada por outros fatores). E também o inverso: se os ganhos econômicos, medidos por indicadores-chave, foram limitados ou inexistentes, talvez o mesmo tenha ocorrido com o progresso científico e tecnológico.

Portanto, na medida em que o crescimento econômico é mais fácil de quantificar que o progresso científico ou tecnológico, os números econômicos conterão pistas indiretas, mas importantes.

O desenvolvimento econômico isolado mais importante dos últimos tempos foi a estagnação geral de salários e rendas desde 1973, o ano em que os preços do petróleo quadruplicaram.

Para uma primeira aproximação, o progresso em computadores e o fracasso em energia parecem ter quase se anulado mutuamente. Como Alice na corrida da Rainha das Copas, nós, e nossos computadores, fomos obrigados a correr cada vez mais, para ficar no mesmo lugar.

Tomados pelo valor nominal, os números econômicos sugerem que, a noção de um progresso vertiginoso e em todos os âmbitos, errou feio o alvo. Quem acreditar nos dados econômicos terá de rejeitar o otimismo do establishment (status quo) científico. O futuro econômico parecia muito diferente nos anos 1960.

Em seu Best-seller de 1967, “O Desafio Americano”, Jean-Jacques Servan-Schreiber argumentou que a aceleração do progresso tecnológico alargaria a distância entre os EUA e o resto do mundo. Segundo o autor, a diferença entre os EUA e Europa (exceto Suécia) cresceria de uma diferença de tipo, comparável à diferença entre Europa e Egito ou Nigéria.

Com isso, os americanos enfrentariam menos pressão para competir: “Em 30 anos, os EUA serão uma sociedade pós-industrial. Serão só quatro dias de trabalho por semana e sete horas de trabalho por dia. O ano terá 39 semanas de trabalho e 13 semanas de férias. Somando-se os fins de semana e feriados, isso resultará em 147 dias de trabalho e 218 dias livres por ano. Tudo isso dentro de uma única geração.”

Precisamos resistir à tentação de descartar o otimismo da era espacial de Servan-Schreiber para compreender como o consenso que ele representava poderia ter estado terrivelmente equivocado – e como, em vez disso, para muitos americanos, o Quarto Mandamento (“Lembra-te do dia de descanso, para o santificar”) foi esquecido.

Cinco. A desaceleração da tecnologia ameaça toda a ordem política moderna, que se apoia no crescimento fácil e contínuo.

O toma-lá-dá-cá das democracias ocidentais depende da ideia de que podemos criar soluções políticas que capacitem a maioria das pessoas a ganhar sempre durante a maior parte do tempo. Mas, em um mundo sem crescimento, podemos esperar um perdedor para cada ganhador.

Muitos suspeitarão que os vencedores estão envolvidos em alguma maracutaia, de modo que podemos esperar uma rudeza cada vez mais deplorável em nossa política. Podemos testemunhar os princípios de um sistema de soma zero em política nos EUA e Europa ocidental, na medida em que os riscos mudam de ganhar menos para perder mais, e que nossos líderes procuram desesperadamente soluções macroeconômicas para problemas que não foram primariamente de economia por muito tempo.

O nome mais comum para uma ênfase mal colocada em política macroeconômica é “keynesianismo”. A despeito de seu brilhantismo, John Maynard Keynes sempre foi uma fraude, e sempre houve um pouco de tapeação no estímulo fiscal em massa e na correlata impressão de papel-moeda. Mas temos que reconhecer que essa fraude curiosamente pareceu funcionar por muitas décadas.[1]

O forte vento de popa científico e tecnológico do século 20 potencializou muitas décadas economicamente ilusórias. Mesmo durante a Grande Depressão dos anos 30, a Inovação levou a avanços em campos como rádio, cinema, aeronáutica, eletrodomésticos, química de polímeros e recuperação secundária de petróleo. Apesar de seus muitos erros, os agentes do New Deal impeliram fortemente a inovação. Os déficits do New Deal foram facilmente quitados pelo forte crescimento das décadas seguintes.

Durante a Grande Recessão dos anos 2010, ao contrário, nossos líderes políticos debatem estreitamente questões fiscais e monetárias com muito mais erudição, mas adotaram uma mentalidade de “Culto à Carga[2] com respeito à inovação futura.

À medida que os anos passam e a carga não chega, nós acabamos duvidando se ela algum dia voltará. A era das bolhas monetárias terminará naturalmente em austeridade real.

Uma pessoa perversa poderia até perguntar se “economias do lado da oferta” realmente foram o tipo de senha para “keynesianismo”. Por enquanto, basta reconhecer que alíquotas fiscais margtinalmente mais baixas podem não ocorrer e não substituiriam a muito necessária construção de centenas de novos reatores nucleares.

Seis. Responder à questão de se houve ou não uma desaceleração tecnológica está longe de ser uma tarefa tranqüila. A questão crítica de por que tal desaceleração parece ter ocorrido é ainda mais difícil, e não há espaço para tratá-la por completo aqui. Encerremos com a com a questão correlata de o que pode ser feito agora.

Mais sucintamente, será que nosso governo pode religar o motor parado da inovação? O Estado pode impulsionar com sucesso a ciência; não há por que negá-lo. O Projeto Manhattan e o programa Apollo nos lembram dessa possibilidade.

Mercados livres podem não financiar tanta pesquisa básica quanto necessário. Um dia após Hiroshima, o New York Times pòde, com alguma razão, pontificar sobre a superioridade do planejamento centralizado em matérias científicas: “Resulta final: uma invenção (a bomba nuclear) que foi dada ao mundo em três anos teria tomado talvez meio século para se desenvolver se tivéssemos que depender de pesquisadores ‘primas donnas’ que trabalham sozinhos”.

Mas isso era outra época. A maioria de nossos líderes políticos não é formada por engenheiros ou cientistas. Hoje, uma carta de Einstein ficaria perdida na sala de correio da Casa Branca, e o Projeto Manhattan nem teria começado; ele com certeza não poderia ser concluído em três anos. Não conheço um único líder político nos EUA, seja ele democrata ou republicano, que cortaria gastos com saúde para liberar dinheiro para pesquisa em biotecnologia – ou, mais geralmente, que faria cortes sérios no sistema de previdência para liberar dinheiro sério para grandes projetos de engenharia. Robert Moses, o grande construtor da cidade de Nova York dos anos 1950 e 1960, ou Oscar Niemeyer, o grande arquiteto de Brasília, pertencem a um passado em que as pessoas ainda tinham ideias concretas sobre o futuro.

Os eleitores hoje preferem casas vitorianas. A ficção científica ruiu como gênero literário. Homens chegaram à Lua em julho de 1969 e Woodstock começou três semanas depois. Com o benefício do olhar retospectivo, podemos ver que foi aí que os hippies se apoderaram do país e que a verdadeira guerra cultural sobre o progresso foi perdida.

Os hippies envelhecidos de hoje não compreendem mais que existe uma grande diferença entre a eleição de um presidente negro e a criação de energia solar barata; em suas mentes, o movimento pelos direitos civis caminha em paralelo ao progresso geral em todos os lugares.

Por causa dessas confusões, a esquerda progressista dos anos 1960 não consegue perguntar se as coisas realmente não poderiam ficar piores. Eu me pergunto se as intermináveis falsas guerras culturais em torno das políticas de identidade não serão a principal razão de termos ignorado a desaceleração tecnológica por tanto tempo.

Seja como for, após 40 anos à deriva, não é fácil encontrar o caminho de volta para o futuro. Para haver um futuro, seria bom que começássemos a refletir mais sobre ele.

O primeiro passo – e o mais difícil – é perceber que estamos em um deserto, e não em uma floresta encantada...



[1] Único país no mundo onde a proliferação do papel-moeda não provocava inflação.

[2] Uma metáfora americana muito semelhante à metáfora brasileira do Delfim Neto: de primeiro deixar o bolo crescer para depois repartir. E até agora o bolo não foi repartido. Assim funciona também a metáfora do “Culto à Carga”.