quinta-feira, 3 de março de 2016

03/03/2016 > Uma Homenagem ao Irmão José Giometti

CRÔNICA DA CIDADE – O DESTINO DOS TRENS

Autor: José Giometti
Lavínia, SP – 19/Mar/1044 <> Santo Anastácio, SP – 19/Set/2014

Cidadão, Companheiro, Irmão e Amigo...
De todas as horas e momentos
Saudade dos feitos perfeitos
E dos erros e acertos
Que por certo cometemos
Mas tenha certeza
Um dia nos encontraremos...
Onde e como não sei
Somente nós saberemos...

Neste próximo dia 19 de março, Gio, Irmão e Amigo, 72 anos completaria e com Saudade estamos todos, os de sua sempre confraria, a nossa querida Maçonaria. Treze anos de convívio irmanado, em todas as terças, nossos encontros marcados, marcados que foram de convivência e harmonia. Às vezes descuidos cometemos, mas sem ranço e nem rancor, pois que a vida nos ensina, que sempre com fraterno amor, todos os desacertos resolvemos. Sem mágoa e muito menos rancor.
Deste seu amigo, como homenagem, deixo a todos, esta crônica de sua autoria.

José Carlos Ramires
Z. Ramires
Março/2016

    O
s raios de sol da tarde de verão incidiam inclementes sobre o telhado da estação ferroviária, cujo reflexo dava a nítida impressão de que tremulava. Ouviu-se o apito do trem que iria fazer a curva, bem antes de vê-lo se aproximar. O velho matuto mineiro virou-se para o filho que permanecia sentado sobre a mala de fibra e falou, Fio, recóie os trem qui o coiso vem chegando...
     Q
uando era pequeno adorava ver o trem. Aquela enorme serpente, resfolegando fumaça pelas ventas, os vagões de madeira pintados de vermelho, a multidão de cabeças postadas nas janelas, o telelé das rodas deslizando ruidosos pelos trilhos e dormentes. O trem representava à época, a materialização da força, do poder, da velocidade e, sobretudo, da expectativa de aventura. Era a modernidade.
    D
e repente, o trem desapareceu de nossas paisagens, de nossa vidas, de uma maneira tão imperceptível quanto um furúnculo drenado espontaneamente. O que permaneceu foi a sua utilização no vernáculo caboclo, que lança mão do verbete nos mais variados sentidos, tanto para designar algo bom – “Ô trem bão!”, quanto algo ruim – “Ô trem ruim, siô!”.
    O
s horários de circulação foram aos poucos se espaçando, o número de vagões diminuindo, as estações endo lacradas, restando o tráfego de alguns poucos trens de carga e, quando se deu conta, não havia mais manutenção dos leitos ferroviários, as estações abandonadas , o mato passou a tomar conta dos trilhos, os dormentes apodreceram e os prédios, antes suntuosos e imponentes, agora tornaram-se um espectro macabro, fruto de depredações, servindo de refúgio para desocupados e usuários de drogas. Da alegria da chegada contrapondo com a tristeza da partida, somente restou um sentimento de perda recendendo a saudade.
    M
as isso não é tudo. Recentemente acompanhei uma rodada de discussões cuja temática referia-se ao problema crônico do transporte viário e escoamento da produção de grãos e outros produtos agrícolas para as regiões abrangidas pelo MERCOSUL. O alto custo do transporte rodoviário, as taxas de pedágio, a limitação do volume transportado, o desgaste das estradas e tantos outros argumentos, trouxeram à mesa de debates justamente o quanto a ferrovia faz falta neste momento da economia nacional. Como diria o caboclo mineiro: “A derrocada da ferrovia foi um trem mal pensado e precipitado!”.

José Giometti - Santo Anastácio, março de 2004

Publicado no livro, "Caçador de Poetas" do Rotary Club, Distrito 4510 - páginas 26-27
Copyright - Livraria Milani 2014 - 1ª Edição
Mário Milani - Rotary Marília Leste

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